segunda-feira, 21 de abril de 2014

Guiné-Bissau. Um país refém do cartel militar e do narcotráfico

Por Diogo Vaz Pinto
publicado em 19 Abr 2014 - 05:00


As disputas incessantes entre a classe política e a elite militar guineense tornaram um país com potencial um dos mais pobres do mundo
É um país cujo passado não parece deixar margem para algum outro futuro, um país pequeno, com apenas 1,6 milhões de habitantes, e que assim mesmo ilustra na perfeição como as divisões étnicas e os jogos de poder podem favorecer uma minoria desonesta enquanto a maioria se vê entregue à miséria. No entanto, e quase quatro décadas após a independência, os guineenses mostraram no passado domingo que continuam a sonhar com a soberania democrática e acorreram às urnas em números nunca antes registados na história da Guiné-Bissau.

Saudadas pela generalidade dos observadores internacionais que as acompanharam, as eleições gerais inspiraram confiança pelo ambiente de "paz e tranquilidade" em que decorreram. Contudo, os observadores continuam cépticos de que o seu sucesso seja o suficiente para fixar um rumo que permita ao mais instável dos países de língua portuguesa combater uma situação de aviltante pobreza, com uma enorme dívida externa e uma economia que depende fortemente de doadores internacionais.

Seja como for, o passo dado no dia 13 comprova - como assinalou Joaquim Chissano, o chefe da maior delegação entre os parceiros internacionais, a União Africana - o claro desejo dos guineenses de conseguirem uma "mudança não apenas de liderança, mas da maneira de viver", e anima a perspectiva da restauração da ordem constitucional ao mesmo tempo que estimula um reforço da ajuda externa e permite amparar a economia.

CICLO DE INSTABILIDADE Muitos anos de agitação política enfraqueceram as instituições governamentais, devastaram a economia e fizeram de um país que em tempos chegou a ser dado como um modelo potencial para o desenvolvimento no continente africano um dos mais pobres do mundo, com a população a viver na miséria, altamente subnutrida e quase sem acesso a cuidados de saúde.


O impacto da crise política na sequência do golpe militar de Abril de 2012 aliado à queda a nível global dos preços da castanha de caju (principal produto de exportação da Guiné-Bissau) no mesmo ano, fragilizou a tal ponto a economia que quase metade da população ficou sem ter como assegurar a sua alimentação, com as famílias a saltarem refeições ou a serem forçadas a desfazer-se do gado para poderem sobreviver até à colheita seguinte.

Nenhum comentário: