O presidente da associação dos
agricultores da Guiné-Bissau, Mama Samba Embalo, afirmou hoje que a campanha de
comercialização da castanha do caju, principal produto de exportação do país,
"vai de mal a pior".
Fazendo um balanço da campanha de caju à luz da situação de crise
político-militar no país, decorrente do golpe de Estado militar de 12 de abril,
Mama Samba Embalo disse que "se continuar a persistir o impasse os níveis
da pobreza irão aumentar".
"Enquanto representantes dos agricultores, podemos dizer que a
campanha está a correr muito mal. Vai de mal a pior. A pobreza ameaça a
população do mundo rural. A castanha está a ser comprada abaixo do preço fixado
pelo Governo", deposto, disse Embalo, também deputado no Parlamento.
O presidente da ANAG (Associação Nacional dos Agricultores da Guiné)
disse que a situação se torna ainda mais complicada devido ao fluxo de pessoas
das cidades para as zonas rurais, onde praticamente só se vive do caju.
"O preço de referência era 250 francos por quilograma, mas o caju é
comprado abaixo desse preço, o que empobrece cada vez mais o produtor",
sublinhou Mama Samba Embalo, explicando ainda que os empresários guineenses não
participam na campanha deste ano.
"Apenas os empresários mauritanos e indianos é que estão a comprar,
porque os operadores nacionais não tiveram crédito nos bancos comerciais por
isso não conseguem participar na campanha", notou o responsável da ANAG.
"Os bancos não têm confiança no país, por isso não dão crédito aos
empresários nacionais. Para piorar ainda mais as coisas, a castanha está a ser
comercializada nas fronteiras para os países vizinhos, Guiné-Conacri, Senegal e
Gâmbia", observou Embalo.
"Não há controlo das nossas fronteiras. O país está a perder muita
riqueza. O índice da pobreza está a aumentar a cada dia que passa",
salientou o presidente da ANAG, apontando números.
"Em 2011, por estas alturas do mês de maio, já tinham sido
exportadas 16 mil toneladas de castanha através do porto de Bissau. Neste
momento que vos falo, nem uma tonelada saiu pelo porto de Bissau", disse.
Mama Samba Embalo explicou que a campanha de 2011, considerada até pelo
Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional como sendo a melhor de todas,
ajudou o país a subir o nível da economia e a credibilidade externa.
"Produziram-se cerca de 200 mil toneladas, exportaram-se 167 mil
toneladas no ano passado. A previsão deste ano era para 230 mil toneladas de
exportação numa produção de cerca de 250 mil toneladas, mas tudo isso poderá
ser uma miragem", defendeu Embalo.
"Ainda é possível recuperar a campanha se o problema for resolvido
nos próximos dias, mas é impensável pensar que vamos poder conseguir alcançar a
quantidade exportada no ano passado", acrescentou o presidente da ANAG,
para quem a solução passa pela reposição das coisas tal como estavam antes do
golpe de Estado.
"Queremos que seja reposta a ordem constitucional e seja reposto o
Governo que foi derrubado", disse Mama Samba Embalo.
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